segunda-feira, 28 de novembro de 2011

MANIFESTO DO COLÉGIO EMILIO MASSOT
SOBRE A REFORMA DO ENSINO MÉDIO


O grupo docente desta instituição de ensino- vem através deste- manifestar publicamente a sua posição no que concerne à Proposta Pedagógica para o Ensino Médio Politécnico da Secretaria de Educação do Estado, com vistas a ser, a mesma,  implementada a partir do ano de 2012.
A nossa análise não tem caráter político partidário nem corporativo, uma vez que recai, fundamentalmente,  na reflexão sobre o texto, sua fundamentação e formas de implantação sugeridas.
Tendo em vista o momento e as condições em que foi lançada dita proposta e, considerando os elementos que a condicionam, entendemos necessária uma análise mais aprofundada da mesma. Se a proposta do governo do estado recai na construção de um processo de alteração do Ensino Médio, de maneira democrática e participativa, em que as conferências darão legitimidade ao documento: como justifica ter ela definido de maneira unilateral a forma e a concepção que o mesmo haverá de ter? Em que instância será possível questionar os pontos conflitivos do texto,  já que eles vêm, para os segmentos que efetivamente se envolvem nela,  apenas para serem “debatidos”, “ ampliados” e “aperfeiçoados”?
            Entendemos urgente e necessária a reformulação do Ensino Médio atual; somos críticos a ele por vivenciarmos no nosso cotidiano o desencontro entre as propostas político pedagógicas que lhe dão sustento e as expectativas dos  alunos perante as exigências sociais e de trabalho a que se vêm expostos. Em nenhum momento a equipe de professores e funcionários desta escola está em desacordo com a possibilidade de mudança; pelo contrário, buscamos, isto sim, projetá-la em um quadro mais real, ao alcance da escola que temos. Por essa razão é que percebemos as limitações que a circundam. Assim registramos abaixo alguns pontos que entendemos serem fiundamentais e que, portanto, devem ser discutidos antes de qualquer outro encaminhamento:
·        Quanto à infraestrutura:
Ø     De que maneira a escola se organizará para atender nos seus espaços físicos, já reduzidos, os alunos no turno inverso?
Ø     E ainda, quais os espaços coletivos para o atendimento das turmas (6 turmas nos 1º anos diurno) nos seminários coletivos?
·        Quanto ao corpo docente:
Ø     O quadro de professores – atualmente insuficiente- assim como a falta de especialistas nas nossas escolas representam um elemento muito importante neste contexto. Considerando que o concurso público que prevê atender a essa demanda seja – efetivamente- realizado no mês de Janeiro de 2012, de que maneira será organizado o inicio do ano letivo se esses novos professores não forem nomeados até a data prevista?
Ø     Vários dos nossos professores cumprem a sua carga horária total em duas e até três escolas: estes professores serão remanejados para uma única escola?
Ø     Na carga horária dos professores será considerado o acompanhamento em “estágios” aos nossos alunos?  Quem cobrirá os custos de transporte?
·        Quanto ao corpo discente:
Ø     Quanto ao direito de escolha do aluno, ele não foi consultado se quer uma proposta politécnica para sua formação em nível médio;
Ø     A obrigatoriedade do estágio não diminuirá a possibilidade de aprendizado do aluno, considerando que não daria a ele espaço para uma dedicação exclusiva pela qual ele e a família poderiam optar, contrariando as políticas públicas e educação?     
Ø     E o “protagonismo” dos segmentos que estarão envolvidos, efetivamente, neste novo formato de Ensino Médio- pais e alunos de 8ª séries  - como ocorrerá?
Ø     Em que situação fica o aluno que não tiver idade legal para fazer o estágio?
Ø     Os alunos poderão escolher onde e com que estagiar, irão se identificar com a sua prática?
Ø     Os alunos estarão aptos para enfrentar a concorrência em relação aos egressos da rede privada ou de outros estados? ENEM? Mercado de trabalho? Formação Humana?
Ø     Quanto ao Ensino Médio Noturno – sabe-se que o perfil do aluno é diferenciado em relação ao Diurno – de que forma será operacionalizada essa proposta? Não gerará ainda mais evasão???
·        Quanto à proposta pedagógica:
Ø      Diante do dinamismo das modificações atuais onde o aprender a aprender é uma prática pedagógica: uma preparação focada, não inviabilizaria a capacidade de adaptação, de reestruturação, de flexibilidade e de criticidade desses alunos fazendo com que em curto prazo tenhamos profissionais obsoletos? E ainda, não estaríamos assim reproduzindo e aprofundando as desigualdades já existentes na nossa sociedade?
Ø      Serão iguais as condições no ensino público e privado?
Ø      Qual mercado de trabalho é esse: formaremos “trabalhadores” e “dirigentes” na medida em que institucionalizamos as diferenças que já existem legitimando desta forma essa divisão do trabalho? Isto não representa – mais uma vez - estarmos formando cidadãos de 1ª ou 2ª classe?
Ø      Entre as opções de mercado para dirigentes e trabalhadores, a igualdade de possibilidades para a escolha pelos alunos não seria precocemente descartada? Está sendo delegada à escola a responsabilidade por atestar essa diferença social institucionalizando a divisão do trabalho. É esse o nosso papel?
Ø      Que conteúdo é esse? Pessoas com habilidades “apenas” técnicas serão pessoas melhores do ponto de vista ético, moral e intelectual?
Ø      Esta proposta – na ausência de um processo coletivo  de construção – não ficará esvaziada na sua práxis, traduzindo-se em reproduzir saberes superficiais e utilitários?

Diz Michael Apple no seu livro: Educação e Poder:
            “...Que tipo de subjetividade, que tipo de ideologia, que tipo de indivíduo pode estar aqui sendo produzido? As características corporificadas nos modos de controle técnico embutidos na própria forma curricular são idealmente adequadas para reproduzir o individuo possessivo, uma visão de si mesmo que está no âmago ideológico das economias capitalistas.”
           
Precisamos analisar com profundidade esses papéis(de professores e de alunos) que criamos e desempenhamos sistematicamente na nossa prática pedagógica.
Esta reflexão é necessária: que força ideológica é essa que aponta no meu trabalho?
A concepção de “emancipação” sugerida desconsidera algo anterior a ela, que é o entendimento do ser humano como um ser de múltiplas dimensões e que se constitui ao longo da sua história; e não a partir de determinado momento ou para cumprir um papel pré-definido por toda a vida.
Essa desconsideração para com quem está “na outra ponta”, atando diariamente os nós do trabalho na sala de aula, nos setores ou na administração dos espaços e  suas dinâmicas é que causa desalento.
Queremos uma alteração do Ensino Médio e estamos dispostos a trabalhar por ela, mas queremos construí-la juntos, diagnosticando este momento histórico que vivemos, entendendo as exigências socioeconômicas no Brasil do Século XXI, problematizando as circunstâncias e nos atendo às diferenças em relação aos interesses dos nossos alunos e suas necessidades pessoais e coletivas.
Queremos ser chamados para elaborar essa proposta, e por esse motivo solicitamos, respeitosamente, que a Secretaria de Educação, através de sua equipe pedagógica, reflita sobre ela e proponha outra forma de estudo, formatação e implementação partindo de  uma prática democrática e participativa.


FAÇA O DEBATE EM SUA ESCOLA.
ORGANIZE MANIFESTO. CONSTRUA A RESISTÊNCIA.

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