terça-feira, 11 de setembro de 2012

Jornal > Juremir Machado da SilvaLetra ANO 117 Nº 342 - PORTO ALEGRE, QUINTA-FEIRA, 6 DE SETEMBRO DE 2012
Paradoxos da educação

O tema da educação está na ordem do dia. De repente, o Rio Grande do Sul, sempre tão disposto a recomendar as suas façanhas ao restante do mundo, descobriu-se na traseira do rendimento escolar. Os defensores dos métodos antigos saíram a campo. Querem autoridade, memorização, cobrança, muita reprovação e enquadramento. Ah, como sentem saudades da palmatória, do grão de milho, da decoreba, do latim e da disciplina. O futuro estaria no passado. Um tempo de grande qualidade, que só existiu para poucos, voltou a ser a referência. Os mesmos que condenavam qualquer reivindicação do magistério passaram a falar até em salários melhores. Em qualquer profissão para se ter os melhores é preciso pagar os melhores salários. Exceto no magistério. Os mestres deveriam ser abnegados, missionários, salvadores da pátria, heróis.

A meritocracia, segundo autodenominados especialistas, surge como a salvação da lavoura. Fixar metas como num banco. Não chegou lá, dança. Se tiver êxito, ganha mais. Agora, mais para todo mundo quebra os cofres públicos. Logo, bom professor deve ter paciência, sabedoria, equilíbrio, ponderação, sensatez, ou seja, aceitar ser mais cobrado, ter de correr atrás de metas, continuar ganhando pouco, sonhando com um pouco mais e dando o couro para que a educação seja um sucesso. Os autodenominados especialistas garantem que salário não é tudo, embora no caso deles seja. O paradoxo do magistério, não canso de repetir, é a relação número/qualidade/remuneração. Como os professores são muitos, os recursos são poucos e a qualidade deve ser melhorada, só lhes resta fazer muito mais por um promessa de menos que nada. A educação não é, de fato, prioridade.

O erro mais grave é imaginar que se pode aplicar à educação critérios de desempenho que funcionam mal em instituições financeiras e em empresas que se acham muito modernas, mas que, quando quebram, não assumem o fracasso nem o justificam, preferindo pedir socorro ao Estado que sempre condenam por incompetência. Os verdadeiros estudiosos do assunto sabem que o buraco é muito mais embaixo, a começar por: como ensinar? O que ensinar? No vestibular da Ufrgs, uma das leituras obrigatórios é um livro de Cristóvão Tezza. Por que mesmo para entrar na faculdade de Medicina ou de Engenharia Civil um jovem devem saber quem é Cristóvão Tezza? Poderia ser qualquer outro. Qual o critério de definição? Os conteúdos não caem do céu, não saltam prontos da natureza, não se impõem como leis naturais. São construções de um tempo.

Uma boa utopia capaz de revolucionar a educação seria esta: nenhum professor municipal ganhará menos do que um vereador. Nenhum professor estadual ganhará menos do que um deputado. Se não for competente, com um salário assim, será exonerado. O mesmo valendo para vereadores e deputados. Demagogia? Demagogia é pedir a professores que sejam os melhores com os piores salários. Qualquer ascensorista de assembleia legislativa ganha mais. Servidor de cafezinho no Senado é magnata perto de professor. Método Django: paguem primeiro, cobrem depois.

Juremir Machado da Silva | juremir@correiodopovo.com.br

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